Entrar a matar para acabar a morrer.Jorge Carneiro
Sob o comando de Rogério Gonçalves a Naval partiu para esta época com um plantel muito semelhante ao que tinha assegurado a manutenção ao cair do pano da temporada passada. A pré-temporada trouxe então algumas movimentações com as entradas cirúrgicas de Orestes e Mário Sérgio, dois defesas já com alguma reputação no nosso campeonato, e a destacadíssima saída de Bruno Fogaça, um dos melhor marcadores da equipa na época anterior. Com um dos orçamentos mais baixos da competição as contratações efectuadas não podiam ser mais do que atletas desconhecidos, jogadores em busca de relançar a carreira ou jovens sem contrato; e assim por sua vez os objectivos nunca poderiam passar da manutenção na Superliga. No entanto e contra todas as expectativas a equipa da Figueira entrou muito bem na prova, com duas vitórias nos dois primeiros jogos seguida de outras duas nos 4 jogos seguintes, sendo que os 13 pontos amealhados deixaram a equipa em 3º lugar. Em boa hora os navalistas garantiram boa parte dos pontos de que precisavam, porque daí para a frente o percurso foi muito modesto - nos 24 jogos restantes a Naval apenas venceu por mais 3 vezes. Um dos momentos marcantes da época ocorreu após a 9ª jornada e consistiu na saída do treinador Rogério Gonçalves rumo a Braga, um evento que Aprígio Santos tentou por todos os meios impedir e a quem o tempo viria a dar razão. Apesar de tudo, foi um confortável cenário de 15 pontos conquistados (quase metade do total que somaria) que Fernando Mira encontrou quando ocupou o cargo; mas apesar de ser um homem da casa, já antes do seu primeiro jogo que os recados da direcção indiciavam que estaria apenas à experiência, e que a sua continuidade a termo definitivo dependeria dos resultados no imediato. Esse facto não terá sido bom nem para a equipa nem para o próprio treinador, e após apenas 4 jogos em que defrontou Benfica, Sporting e o europeu Paços de Ferreira na Mata Real, Mira despediu-se com um animador empate frente aos encarnados. Foi então substituído pelo experiente Mariano Barreto, que nos seus primeiros jogos à frente da Naval ainda conseguiu manter a equipa próxima dos lugares europeus; mas à entrada para o último terço os figueirenses entraram definitivamente em quebra e não venceram nenhum dos últimos 10 jogos, acabando por não ir além do distante 12ºlugar. Pelo meio nem mesmo nova chicotada psicológica - numa altura em que choviam noticias de atritos entre treinador e direcção - a promover regresso de Fernando Mira permitiram inverter esta queda classificativa. Ainda assim, o objectivo principal há algum tempo que se encontrava já atingido.
À entrada da 5ª jornada a equipa da Naval era já uma das surpresas positivas da prova, com 10 pontos em 5 jogos e ocupando um dos primeiros lugares da classificação. No entanto teria nesta ronda um verdadeiro teste de fogo no estádio do Bessa, onde poucas semanas antes o Benfica saíra vergado a uma humilhante derrota por 3-0. Apesar da importância do desafio a equipa não se intimidou, jogando de forma muito tranquila e personalizada, acabando por merecer perfeitamente a sorte que teve no final com o auto-golo de Cissé. Com esta vitória os figueirenses mantiveram o seu 3ºlugar, garantindo desde logo mais de metade dos pontos que viriam a ser necessários para assegurar a manutenção. Infelizmente, para além da prova de força demonstrada este jogo significou também um ponto de viragem, dado que a partir daí começou a ser falada a hipótese de alcançar um lugar europeu - o que terá afectado a equipa que daí para a frente entrou em quebra evidente, voltando a vencer apenas 7 jornadas depois.
É uma pena Lito ter chegado à primeira divisão já com 28 anos, dado que se tivesse despertado mais cedo para a alta competição com a qualidade que demonstra a cada época teria certamente alcançado outro renome, quiçá no próprio futebol internacional. De aparência franzina mas muito resistente e poderoso no arranque - nesse aspecto faz inveja a muitos jogadores de 20 anos - Lito está nestes dois últimos anos a transformar-se na principal figura da Naval na primeira divisão, estatuto que já antes tinha conquistado então ao serviço do Moreirense. Mais uma vez, é de lamentar que conte já com 32 anos... Mas como prova de que ainda se encontra longe de estar acabado, continua a subir na vida: a Académica ofereceu-lhe um contrato para se mudar para Coimbra durante as próximas duas épocas.
No início da época era apenas mais um rosto desconhecido entre as dezenas de Brasileiros que todos os anos aterram nos nossos clubes à procura do sonho de jogar na Europa; e apesar de já contar alguns jogos feitos na primeira divisão brasileira, Paulão era igualmente um desconhecido no mundo desportivo. Chegado já sobre o final da pré-época juntamente com o colega Gaúcho para colmatar a súbita dispensa de Banjai, estreou-se à 2ªjornada (na primeira foi suplente) e daí para a frente não mais perdeu o lugar. Formou com o capitão Fernando uma das melhores duplas de centrais do campeonato durante a primeira volta, sendo que nessa fase apenas os três grandes tinham sofrido menos golos. Na segunda volta acompanhou a quebra de toda a equipa e desceu de rendimento... mas o seu nome já há muito que tinha deixado de ser desconhecido.
Depois de deslumbrar no Sporting e de na sequência ser transferido para Marselha, a carreira de Delfim viu-se comprometida por uma gravíssima lesão cervical que o afastou dos relvados durante alguns anos. Após a lenta recuperação não mais o seu currículo voltou a impressionar, não se tendo conseguido afirmar em nenhuma das (quase sempre) modestas equipas por onde passou: em Moreira de Cónegos pouco jogou; de regresso a Marselha tornou-se apenas um suplente de luxo; saiu para o modesto Young Boys, apenas para meia época depois aterrar na Naval. Chegado à Figueira a meio da época que agora terminou e apesar do triste passado recente havia ainda a esperança de recuperar o Delfim de outros tempos, mas as limitações físicas limitaram-no a apenas 9 participações nas quais esteve muito longe de deslumbrar. Outrora conhecido pela Europa fora pelo seu forte pontapé, actualmente leva já 6 anos sem marcar um único golo.